Receita Em Bolada
Meia dúzia de “grampos” defumados
em queimadas de florestas.
Salpique sobre os pobres,
agora obesos,
toneladas de pré-sal.
Mexa devagar para não desandar.
Regue com muito esporte, –
futebol, vôlei, fórmula um…
E alguns cortes de traficantes.
Pincele com celebridades
da música ou do cinema, –
namoro, separação, casamento…
E, depois de algum tempo,
retire do molho o mensalão.
Junte fatias fininhas de pesquisas
ou descobertas da ciência.
Adicione a impaciência da mãe
que traz o filho doente ao colo
e aguarda, horas a fio,
para entrar no consultório.
Misture na batedeira
o aumento dos impostos
aos rostos de incômodos
e famintos indigentes.
Fermente com etanol,
lobbies, pedofilia,
franco-atiradores,
amantes de senadores,
deputados, governadores,
ou uma guerra qualquer…
Mas não ponha a descansar…
Adicione mais alguns políticos,
em decadência ou ascenção, –
reis, rainhas, presidentes;
padres, rabinos, pastores…
E cubra com a corrupção.
Cozinhe em banho-maria.
Bem lentamente…
Retire do fogo
e não deixe esfriar:
sirva, imediatamente,
com “azeitonas”,-
perdidas aqui e acolá,
a enfeitar o prato.
De sobremesa, claro!,
“laranjas”!
Acrescente
um ou mais
ingredientes,
ao seu gosto,
ou desgosto.
Se após digerir
esse divino manjar
sentir-se mais que indisposto,
não brinque com o destino:
encontre logo o remédio.
E se a crise persistir
não ignore a ação,
os valores da bolsa…
de água quente.
Piorou?
Procure o médico.
Corra ou morra!
Que problemas do coração,
quase sempre aparentam
uma simples indigestão.
Siga à risca o tratamento:
não leia jornais, revistas,
ou livros.
Não navegue pela internet,
não ligue a televisão.
Não pense!
Não pense!…
ju rigoni
Visite também Fundo de Mim II, Dormentes e Navegando…
Quando li este texto não pensei no Brasil.
Senti que poderia ser o retrato do meu pobre Portugal.
Até na desgraça somos irmãos.
Beijo
Jorge
ótimo post. E ainda tem eleição……(só pode ser sacanagem)
Maurizio
Ótimo texto, indigesta receita… Mas, infelizmente, é o nosso prato de cada dia. Eleições… Ás vezes me pergunto, pra quê? Afinal, saem algumas moscas, entram outras, outras ainda se perpetuam, e a caca continua sempre a mesma.
Beijinsss.
Oi, Ju:
Uma receita para fazer pensar… Um tanto indigesta, claro. Mas se não absorvermos, como saberemos? Não podemos nos recusar a ver as coisas, pois nem sempre o não pensar é o mais saudável.
Beijos pra ti e inté.